"PENAS PARA USUÁRIOS DE DROGAS"


Criminalização, despenalização e descriminalização:antes da Lei 9.099/95 (lei dos juizados criminais) o art. 16 da Lei 6.368/1976 contemplava a posse de droga para consumo pessoal como criminosa (cominava-lhe pena de seis a dois anos de detenção). A conduta que acaba de ser descrita era problema de "polícia" (e levava muita gente para a cadeia). Adotava-se a política norte-americana da criminalização. O usuário de droga era um "criminoso".

A partir da Lei 9.099/1995 permitiu-se (art. 89) a suspensão condicional do processo e, desse modo, abriu-se a primeira perspectiva despenalizadoraem relação à posse de droga para consumo pessoal. Afastou-se a resposta penal dura precedente, sem retirar o caráter criminoso do fato.

Com a Lei 10.259/01 ampliou-se o conceito de infração de menor potencial ofensivo para todos os delitos punidos com pena até dois anos: esse foi mais um passo despenalizadorem relação ao art. 16, que passou para a competência dos juizados criminais. A consolidação dessa tendência adveio com a Lei 11.313/2006, que alterou o art. 61 para admitir como infração de menor potencial ofensivo todas as contravenções assim como os delitos punidos com pena máxima não excedente de dois anos, independentemente do procedimento (comum ou especial).

O caminho da descriminalização formal (e, ao mesmo tempo, da despenalização) adotado agora pela Lei 11.343/2006 em relação ao usuário, de modo firme e resoluto, embora não tenha transformado tal fato em infração administrativa, sem sombra de dúvida constitui uma opção político-criminal minimalista (que se caracteriza pela mínima intervenção do Direito penal), em matéria de consumo pessoal de drogas. A lei brasileira, nesse ponto, está em consonância com a legislação européia (que adota, em relação ao usuário, claramente, a política de redução de danos, não a punitivista norte-americana). De qualquer maneira, não ocorreu a total abolição do antigo art. 16 nem da posse de droga para consumo pessoal. Nesse sentido abolicionista acha-se a sentença proferida pelo juiz Orlando Faccini Neto, da comarca de Carazinho (RS). Mas não foi exatamente isso o que ocorreu com a nova lei de drogas, que passou a contemplar no art. 28 uma infração penal sui generis, punida tão-somente com penas alternativas.

Cabimento de transação penal:o novo "estatuto" do usuário, em linhas gerais, é o seguinte: o art. 28 constitui uma infração penal sui generis, da competência dos juizados, permitindo-se transação penal. Aboliu-se a pena de prisão para ele. Jamais ser-lhe-á imposta tal pena. A transação penal (nos juizados) deve versar sobre as penas alternativas do art. 28 e sua duração não pode passar de cinco meses. Essa pena alternativa transacionada não vale para antecedentes nem para reincidência (por força da Lei 9.099/1995, art. 76). Normalmente a transação penal impede outra no lapso de cinco anos. Em relação ao usuário isso não acontece quando ele reincide na conduta relacionada com a posse de droga para consumo pessoal, ou seja, o usuário pode fazer várias transações penais, dentro ou fora desse lapso temporal (em razão do consumo de droga).

Descumprimento da transação penal: havendo descumprimento da transação penal, para garantir sua execução, dispõe o juiz dos juizados de duas medidas (art. 28, § 6º): admoestação (em primeiro lugar) e multa (essa é a última sanção possível). A multa deve ser executada pelos juizados, nos termos da lei de execução penal (art. 164 e ss.). Caso o agente não tenha bens, aguarda-se melhor ocasião para a execução, até que advenha a prescrição (de dois anos, nos termos do art. 30 da nova lei).

"Reincidência" no art. 28: se o sujeito, depois de feita uma transação, reincide (é encontrado em posse de droga para consumo pessoal outra vez), não está impedida uma nova transação em relação ao art. 28, mesmo que dentro do lapso de cinco anos. O que muda, nessa "reincidência" (que aqui é considerada em sentido não técnico), é o tempo de duração das penas: de cinco meses passa para dez meses. Mas não existe impedimento automático (mesmo dentro do lapso de cinco anos) para a realização de uma nova transação. E se o agente praticar outro fato, distinto do art. 28? Nesse caso, a transação anterior impede outra, no lapso de cinco anos (art. 76, § 2º, II, da Lei 9.099/1995).

Sentença final condenatória: caso não haja transação penal, tenta-se em primeiro lugar, logo após o oferecimento da denúncia, a suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/1995); não havendo consenso em torno da suspensão ou não sendo ela possível, segue-se o procedimento sumaríssimo da lei dos juizados; as penas do art. 28, nesse caso, são impostas em sentença final, dentro desse rito sumaríssimo. Nessa hipótese a sentença gera todos os efeitos penais (antecedentes, reincidência etc.).

Descumprimento da sentença penal condenatória: em caso de descumprimento da sentença condenatória volta a ter incidência o § 6º do art. 28 da Lei 11.343/2006, ou seja, cabe ao juiz dos juizados ou das execuções fazer a devida admoestação e, quando necessário, aplicar a pena de multa (que será executada nos termos do art. 164 e ss. da lei de execução penal).

Reincidência técnica: caso o sujeito venha a praticar, dentro do lapso de cinco anos, nova infração do art. 28 depois de ter sido condenado antes definitivamente por outro fato idêntico, é tecnicamente reincidente. De qualquer maneira, embora reincidente em sentido técnico, não está impedida nova transação penal para ele (quando pratica novamente a conduta do art. 28). O que muda em relação à anterior transação é o tempo de duração das penas, que passa a ser de dez meses. E se esse o agente tornou-se reincidente cometendo outra infração penal de menor potencial ofensivo, distinta do art. 28? Cabe ao juiz, nesse caso, verificar a questão do "mérito" do agente (antecedentes, personalidade, culpabilidade etc.) assim como a suficiência das penas alternativas em relação à infração cometida. Normalmente, entretanto, a reincidência impede a transação penal.

Como se vê, a nova lei de drogas em hipótese alguma impede nova transação penal para usuário quando ele reincide nessa infração e, de outro lado, de modo algum autoriza aplicar a pena de prisão em relação a ele. O usuário está regido por um novo "estatuto" jurídico no nosso país. Sua conduta ainda não saiu totalmente do Direito penal, mas um dia o legislador brasileiro certamente contará com suficiente coragem para descriminalizar penalmente esse fato, trasladando-o para o mundo do Direito administrativo.

Chegará o dia em que diremos que a posse de droga para consumo pessoal não é problema de polícia nem do Direito penal nem dos juizados, sim, das autoridades, agentes e profissionais sanitários, assistentes sociais, psicólogos, médicos etc. E que não demore muito a chegada desse dia! Devemos proporcionar ao pobre exatamente a mesma política que os ricos (naturalmente) sempre adoraram.


domingo, 29 de agosto de 2010

Hepatite C e o risco de contrair a doença usando COCAÍNA!

Você sabia que 4 milhões e meio de pessoas podem estar contaminadas com o vírus da Hepatite C no Brasil, sendo que apenas 5% delas sabem que estão infectadas? Se formos considerar os casos de Hepatite B, esse número sobe para 6 milhões.
As complicações causadas pela hepatite podem levar à morte, mas pessoas diagnosticadas a tempo podem fazer o tratamento e eliminar o vírus do organismo. Peça ao médico para fazer o exame, principalmente se tiver recebido transfusão de sangue ou passado por procedimento cirúrgico antes de 1992. Também fazem parte do grupo de prevalência as pessoas que já fizeram uso de drogas injetáveis ou inaláveis.
Você não faz parte desse grupo? Fico feliz! Mas faça o exame mesmo assim. Pense que muitas experiências ao longo de nossa vida podem nos ter colocado em contato com o vírus, por exemplo: tatuagens, piercings, dentista, manicure, injeções quando as agulhas ainda não eram descartáveis etc. Esse exame é coberto pelo SUS e por muitos planos de saúde.
"Quando me deparo com pessoas que dizem que não fazem parte de um grupo de risco, me pergunto: 'De que planeta você é?'" Dra Diana Sylvestre In: Lawford, Christopher Kennedy e Sylvestre, Diana. C sua vida mudasse. Manole, 2010

Resumindo bem rapidamente, o artigo teve suas informações distorcidas e acabou rodando a internet, associando a doença à quantidade de parceiros, como se fosse uma DST, o que é uma visão bastante errada.

No entanto, isso traz à tona a falta de divulgação sobre a doença, que está longe do patamar adequado. A Aids, por exemplo, recebe 33 vezes mais recursos do que a Hepatite C. Evidentemente que são doenças distintas e de importâncias diferentes, mas a diferença não deveria ser tão gritante assim.

E nunca é demais lembrar: a Hepatite C age silenciosamente e, segundo estimativas, atinge 3 milhões de brasileiros sem que eles sequer saibam disso. E é bom ficar atento às possibilidades de contaminação, que incluem até a manicure e uma simples extração dentária.

Mobilize-se e ajude a mudar essa percepção errada de uma doença que atinge tanta gente. Faça seu exame anti-HCV.


Fonte: JLineu, o @inconformado

terça-feira, 11 de maio de 2010


Hepatite C é uma doença sexualmente transmissível?


O resultado do anti HCV negativo que meu marido recebeu hoje motivou-me a falar sobre esse tema controverso. Afinal, a hepatite C pode ser considerada uma DST?

Flickr Creative Common- Imagem compartilhada por NeoGaboX

Na minha opinião, não.
As pesquisas mostram que a transmissão da hepatite C entre casais heterossexuais monogâmicos é muito rara. Nos estudos que li, essa ocorrência varia de 0,4% a 3% (com variações dentro desses valores; por exemplo, em artigo apresentado pelo Grupo Otimismo em 2005, o risco seria de 0 a 0,6% ao ano). 

É interessante observar que, em vários casos em que o parceiro também está infectado, o genótipo do vírus ou a variação de seu genoma são diferentes do outro, o que exclui a possibilidade de transmissão entre eles. Além disso, muitas vezes são observados outros fatores de risco, como compartilhamento de lâminas de barbear e instrumentos de manicure, uso de drogas injetáveis ilícitas e uso de tatuagem (que pode ter sido feita sem a devida esterilização/descarte dos instrumentos). 

Em 2007, foi publicado estudo sobre a transmissão sexual por meio de sexo anal. Até então, falava-se da pequena incidência de transmissão no sexo "normal" (risos), mas cogitava-se que no sexo anal, pelo risco de fissuras que pudessem apresentar traços de sangue, o risco seria maior. No estudo realizado com homossexuais masculinos, isso não se verificou. 

No fórum da comunidade Hepatite C no orkut, esse tema foi muito discutido (engraçado que, quando se trata de assunto picante, praticamente só as mulheres falam; os homens ficam lendo caladinhos - porque ninguém me convence que eles não lêem!). A pesquisa foi justamente para saber se havia ocorrido transmissão entre os parceiros. Pelo que lembro, apenas num caso havia ocorrido (mesmo assim, precisamos lembrar das outras possibilidades de transmissão entre o casal).
O engraçado é que, para a pesquisa valer, precisava responder se fazia "barba, cabelo e bigode", porque só "papai e mamãe" não era válido para os fins do nosso "estudo".

Conclusões:
1) Como tem mulher safada por aí (risos risos risos).*
2) A ocorrência de ambos os parceiros infectados é muito pequena - corroborando as pesquisas científicas (essa foi boa, Flor, pesquisa no orkut "corroborando pesquisa científica"). 

* ATUALIZAÇÃO EM 20/05/2010
Numa sociedade onde o sexo ainda é tabu, isso pode ser mal interpretado. Quando falei "safada", me referi a mulheres muito bem resolvidas sexualmente, que não tem pudores de ter prazer com seus maridos - no que me incluo.

A primeira médica que consultei disse que o uso de preservativo era uma escolha do casal, não havendo orientação específica para isso. Meu médico atual já orienta que o preservativo seja usado. De qualquer forma, eu uso pela questão contraceptiva, já que portadoras de hepatite C não devem usar anticoncepcionais a base de hormônios (pílulas, por exemplo) - falei sobre isso no post Hepatite C e anticoncepcionais

Agora, nada de "oba oba", hein gente? Lembrem que a hepatite B é sexualmente transmissível e o risco de contágio é cem vezes mais fácil que o da Aids, além do número de infectados com hepatite B ser três vezes superior aos de infectados com HIV (fonte: Hepatite B - uma epidemia em crescimento). Além disso, não preciso lembrar vocês do número de DSTs existentes, né? Bom, é sempre bom lembrar: Aprenda sobre as DSTs - Ministério da Saúde

A hepatite C não é uma doença sexualmente transmissível, mas, em alguns casos, pode ser transmitida sexualmente. Pra você não há diferença entre essas duas coisas? Pra mim há muita diferença.

Fontes para consulta:
Artigo do Dr. Stéfano Gonçalves Jorge


Atualização em 14/05/2010:
QUIZ - Durante a relação sexual, um dos parceiros tem hepatite C e existe contato de sangue com sangue (por exemplo: menstruação e feridas/fissuras). O outro pode ser infectado?
1) Sim    2) Não

Resposta: Sim... "sangue com sangue". A infecção não se daria pela relação sexual em si (fluidos), mas pelo contato sanguíneo.

terça-feira, 29 de setembro de 2009


Pneumonia e hepatite C


Hoje recebi cópia dos prontuários de minhas quatro internações hospitalares na infância. Registro aqui a rapidez e eficiência do hospital São Lucas da PUC em atender ao meu pedido.

Todas elas foram por problemas pulmonares, a primeira aos 5 anos (há 26 anos atrás) e a última aos 12. No total, foram duas cirurgias. Numa dessas "hospedagens", durante uma transfusão de sangue, contraí o vírus da hepatite C (estranho que não encontrei menção à transfusão no prontuário ou, pelo menos, eu não soube identificá-la).

Ainda terei a oportunidade de contar pra vocês sobre essas experiências, principalmente a de 1986, quando tinha 8 anos: pneumonia causada pela bactéria Staphylococcus aureus (claro que eu tinha que escolher uma bactéria dourada). Olha a foto dos bichinhos aí ao lado.

Um dos médicos chegou a dizer para minha mãe que eu ter sobrevivido foi um milagre - concordo plenamente, mas faz parte desse milagre a competência da equipe médica.

Quero aproveitar para agradecer, mais uma vez, ao Dr. Renato Stein (meu pediatra) e ao Dr. Cyrus (cirurgião pediátrico).

Não gostaria de ser injusta, mas seria impossível lembrar do nome de toda a equipe, que sempre foi tão carinhosa. Além do Renato, tinha a Margareth, o Kipper, um outro pediatra que eu só me lembro como "o médico bonito" (minha mãe acha que ele se chamava Paulo) e a enfermeira Perosa.

Devorei as 100 páginas dos prontuários em poucos minutos. Chorei algumas vezes. Primeiro, e principalmente, por pensar no sofrimento da minha família.

Depois, por reviver aqueles 42 dias de hospital em 86. Tenho tantas cenas gravadas na minha mente! Por exemplo, quando a médica escreve que demonstrei medo quando fui informada da punção lombar que faria no dia seguinte. Mas, convenhamos, quem não teria medo? Dá uma olhadinha aqui como é.

Me lembro da punção, me lembro do medo, me lembro da dor que era só de ficar na posição necessária. Mas também me lembro o quanto fui corajosa nesse dia - e em todos os outros.

Tá vendo, já estou chorando de novo... porque ô guriazinha porreta que eu fui!

Eu falei pra minha mãe que não a deixarei ler o prontuário, porque as palavras por si só, mesmo na fria linguagem médica, já evidenciam a gravidade da situação, já mostram o sofrimento pelo qual passei, tão pequenina - passamos todos.

Que tal: "Piora importante, comprometimento quase total do pulmão esquerdo, com atetectasia e derrame pleural", "dor", "drenagem de secreção sanguinolenta", "dor", "surtos psicóticos", "dor", "febre que não cede com os medicamentos", "dor" etc.

Acho que é por isso que estou lidando bem com a hepatite C agora.
Porque já passei por coisa muito pior.

Mas, acreditem, o hospital é uma lembrança boa para mim. Claro que ficaram alguns traumas - graças a Deus, não fiquei com nenhuma das inúmeras seqüelas possíveis - mas no geral é uma lembrança muito positiva: as pessoas (familiares, amigos, médicos, enfermeiros), as situações, as histórias (quantos livros me foram lidos naqueles 42 dias!), os presentes, o pão de queijo da lanchonete, as brincadeiras...

E eu que achava que minha memória era ruim! Vocês não imaginam o filme que passou agora na minha cabeça.

Filme bom, com final feliz.

Hepatite C é só um "detalhe", pra não deixar o final da história monótono (ou pra eu continuar sendo muito mimada - adoro essa parte).




1986 - Festa na AABB Porto Alegre em comemoração à minha volta pra casa do hospital.
O que eu falava mesmo sobre ser mimada???

sábado, 23 de maio de 2009


Engravidando com hepatite C


Respondendo a uma pergunta que me foi feita no orkut: a decisão de engravidar foi a coisa mais acertada que já fiz em toda a minha vida e foi baseada na razão, na emoção e na :


1) RAZÃO: A probabilidade do vírus passar para o bebê - o que pode acontecer somente na hora do parto - é muito pequena (dependendo da pesquisa, de 4 a 7%). Meu infectologista estava mais tranquilo do que eu, porque ele disse que nunca viu isso acontecer - e olha que ele é muito experiente na área. Segundo ele, mesmo que ocorra a transmissão vertical (da mãe para o bebê), muitas crianças negativam o vírus naturalmente. Tem também aquela questão da evolução da doença ser mais lenta quando a infecção ocorre na infância e a possibilidade das crianças responderem melhor aos medicamentos do que os adultos.

2) EMOÇÃO: O sonho e o desejo de ter essa criança pesaram na balança muito mais do que o medo. Eu acreditava que a alegria de sua presença em nossa família seria infinitamente maior do que qualquer outra coisa (e agora vejo que eu estava certa - mesmo que ela tivesse sido infectada, nossa vida seria muito mais feliz com ela do que sem ela).

3) FÉ: Principalmente, acredito que tudo em nossa vida acontece do jeitinho que tem que ser! Então, se acontecesse o pior - mesmo com uma probabilidade tão pequena - seria a vontade de Deus. E como tudo o que Ele faz é para o nosso bem, com certeza seria algum aprendizado pra gente (família e criança), uma certa cumplicidade ao partilhar a luta, ou algo que seríamos incapazes de compreender, mas teríamos que aceitar como uma prova e uma oportunidade de crescimento e amor.

Como eu me senti durante a gravidez? Acho que, como toda grávida, com muitas inseguranças e angústias. Embora façamos um acompanhamento mais frequente durante a gestação, não há nada que possamos fazer para prevenir que ocorra a contaminação na hora do parto (até no tipo de parto - normal ou cesárea - os estudos já mostraram que não há diferença significativa).

Minha gravidez foi meio complicada, mas tanto o obstetra quanto o infecto são da opinião que nada daquilo teve a ver com a hepatite. A tal colestase intra-hepática é uma "doença de gravidez", também chamada prurido gestacional, e não há nada que a relacione com o vírus C.

Para quem está pensando em engravidar, não encare nada disso como conselho; é apenas a minha experiência. Pesquise, converse com seu médico e, principalmente, com a sua família. Se a razão, emoção e fé de vocês os levarem à decisão de ter o bebê, que Papai do Céu os abençoe. Caso contrário, que os abençoe também e que sua família seja muito feliz. A hepatite C é apenas uma pedra no nosso caminho, mas pedras não nos impedem de prosseguir e alcançar o objetivo de todos nós: a felicidade, seja qual for a decisão.

Falo mais sobre isso no post: Minha criança cristal

Mais sobre o assunto:
Artigos sobre hepatite e gravidez - www.hepato.com

Para quem ficou em dúvida: sim, na foto somos eu e a Amanda (quando eu ainda tinha cabelo - rs!).

sexta-feira, 22 de maio de 2009


Epidemia silenciosa


Número de infectados (OMS)
Hepatite C - Brasil: 4,5 milhões. Mundo:
170 e 200 milhões.
Hepatite B - Brasil: 2 milhões. Mundo: 350 milhões.
Atenção: 95% dos infectados nem desconfia que tem a doença.

Mortes (dados de 2002)
929.000 mortos no mundo vítimas das hepatites B e C
(hepatite B: 235.000 mortes por cirrose e 328.000 por câncer de fígado; hepatite C: 211.000 mortes por cirrose e 155.000 por câncer de fígado).

Evolução da doença
Após o contato inicial com o vírus, o quadro evolui para cirrose em 20 a 30 anos. Após a instalação da cirrose, de 6 a 10 anos evolui para câncer de fígado. A cada ano, há 1,2 milhões de casos de câncer de fígado somente pela hepatite B (fonte: Sociedade Britânica de Gastroenterologia).

A maior parte das infecções pela hepatite C ocorreram nas décadas de 70 e 80. Por isso, espera-se que o ápice dos problemas causados pela epidemia de hepatite C aconteça em 2015 (daqui a seis anos) - uma "bomba viral" a explodir, podendo provocar a morte de centenas de milhares de indivíduos.

O que podemos fazer diante desse cenário?
Em primeiro lugar, faça o exame das hepatites! Quanto antes detectado o vírus e iniciado o tratamento, maiores as chances de cura, evitando a evolução da doença.
Depois, divulgue essas informações entre seus contatos!

Prevenção

Hepatite A: saneamento básico, tratamento adequado da água, alimentos bem lavados e cozidos e lavar sempre as mãos antes das refeições. Há vacina (particular).

Hepatite B: usar preservativo nas relações sexuais, cuidado em situações que propiciem o contato do vírus com seu sangue: por exemplo, compartilhar seringas, aparelho de barbear, escova de dente, alicate de cutícula, agulhas de tatuagem etc. Há vacina (postos de saúde).

Hepatite C: sobretudo evitar contato de sangue com sangue. Grupo de risco: quem passou por procedimento cirúrgico ou transfusão de sangue antes de 1992 e pessoas que utilizaram material não-descartável ou mal esterilizado alguma vez na vida (seringas de vidro, dentista, manicure, tatuagem, piercing, uso de drogas injetáveis ou inaláveis etc - ou seja, quase toda a população mundial!). Não existe vacina.

Omissão das autoridades

Se o caso é tão grave, porque não há ações efetivas dos Estados? A hipótese mais provavél é a econômica: o custo do tratamento é muito elevado. Como dizem, a hepatite C daqui há algumas décadas não será mais um problema: os infectados, ou estarão curados, ou estarão mortos. Ver post nesse blog:
Erradicação da hepatite C


Fontes:
Hepatites B e C já representam uma das maiores causas de morte no mundo
O mais comentado no Congresso DDW 2008
BVS - Dicas de Saúde Hepatite

segunda-feira, 18 de maio de 2009


Hepatite A


Está ocorrendo um surto de hepatite A no Entorno do DF, conforme divulgado pela imprensa: DFTV - Surto de hepatite A. Segundo a matéria, doze crianças teriam contraído a doença em Águas Lindas de Goiás e, embora o risco de morte seja considerado pequeno, duas delas teriam morrido - que Deus conforte o coração dessas famílias.

A hepatite A é transmitida principalmente por água ou alimentos contaminados, ou de pessoa para pessoa. Não existe tratamento específico - os remédios buscam apenas reduzir os sintomas, que muitas vezes nem aparecem. Dois meses após a contaminação, costuma-se já estar 100% curado (incluindo o período em que o vírus fica incubado, sem manifestação).

Existe vacina, mas só em clínicas particulares. São duas doses, com intervalo de seis meses (custo médio em Brasília: R$ 80,00 a dose). As crianças podem ser vacinadas a partir de 1 ano de idade. A vacina é recomendada a pessoas com hepatopatias (eu fui vacinada na adolescência - contra a hepatite A e B).

Aproveitando a oportunidade, lembro que a vacina contra hepatite B faz parte do calendário de vacinação nos postos de saúde. São três doses, ainda no primeiro ano de vida. Jovens até 19 anos também podem ser vacinados, gratuitamente. Procure o posto de saúde mais próximo à sua casa!

Conheça mais sobre a hepatite A: Cives - UFRJ


NÃO CONFUNDA!!!
Há muito preconceito contra portadores de hepatite B e C, porque as pessoas confundem sua forma de transmissão com a da hepatite A.
Os vírus B e C são transmitidos sobretudo pelo sangue (e, convenhamos, em situações normais não costumamos misturar nossa sangue com o de outras pessoas - como diz um desenho que minha filha assiste: "não se vê isso todos os dias").


Não se pega hepatite C compartilhando talheres, na água, nos alimentos, no vaso sanitário etc. Não se pega em beijo, nem em abraço (mas atenção, a hepatite B, como o HIV, pode ser transmitida sexualmente - use sempre camisinha!).

quarta-feira, 15 de abril de 2009


Hepatite no salão de beleza


O comentário do Hugo na última postagem levanta uma questão muito importante: às vezes achamos que estamos tomando o cuidado necessário para nos proteger de doenças infecciosas, mas podemos estar enganados.

Um exemplo são os salões de beleza. A maior parte deles exibe o sua estufa aos clientes e conta com orgulho que lá tudo é esterilizado.
O problema é que, para que o vírus da hepatite realmente seja eliminado, é necessário que esse aparelho esteja numa determinada temperatura e o procedimento dure de 1 a 2 horas.
Fica pra cada um, com base no que observa nos salões que frequenta, julgar se isso é feito da forma correta, a cada uso dos instrumentos.

Além disso, a contaminação pode ocorrer por outras vias. Você já se perguntou, por exemplo, se o pauzinho que tira o excesso do esmalte é descartado a cada cliente?

Eu, particularmente, não posso afirmar com certeza que os procedimentos adequados são executados por todos os profissionais. Por isso, e por responsabilidade, prefiro tomar minhas próprias providências: levo sempre o meu kit.
Mas vou abrir meu coração: pra mim é assustador pensar que, em todos esses anos que eu desconhecia que era portadora do vírus, devo ter feito as unhas em salão algumas milhares de vezes. Como minha cutícula é fininha, é muito comum que as manicures me cortem (e quem nunca teve um bife tirado?). Dizem que o vírus da Hepatite C sobrevive por até 3 dias nos instrumentos (diferente do HIV, que é menos resistente). Dizem também que temos aproximadamente 4,5 milhões de infectados com o VHC no Brasil, sendo que 95% não sabe disso e, portanto, não deve tomar os cuidados necessários para evitar a transmissão. E existem ainda os infectados com o vírus da hepatite B e outras doenças. Estão entendendo onde quero chegar?

Há 2 meses, uma reportagem do Fantástico alertou para esse risco.
Segundo a pesquisadora entrevistada, o ideal é que a cliente tenha o seu próprio kit, com alicate, espátula, toalha, palitos, lixa, esmalte. A manicure também deve usar luvas (no meu kit, eu mesma levo luvas descartáveis de silicone, dessas que se compra em farmácias).

Qual é o tamanho do risco? Difícil calcular, mas se pode ter uma idéia quando o resultado da pesquisa apresentada no Fantástico mostra que das 100 manicures pesquisadas, 10% tinham o vírus da hepatite B ou C.

Não é para assustar, é para alertar...
Não precisa deixar de fazer as unhas, basta tomar os cuidados necessários: Ame-C!
Veja a reportagem no link:
É possível pegar hepatite ao fazer as unhas - Fantástico 08/02/2009

sexta-feira, 10 de abril de 2009


Minha criança cristal


Queria falar pra vocês sobre minha menininha linda, que hoje tem 1 ano e meio de idade.

Com certeza, uma criança da geração cristal, como nos descrevem Divaldo Franco e Vanessa Anseloni no livro "A Nova Geração: a visão espírita sobre crianças Índigo e Cristal":

"Espíritos mais elevados igualmente estão chegando à Terra, a fim de auxiliarem na grande transição planetária. São as crianças denominadas cristal. Aquelas que não são rebeldes, mantendo-se silenciosas, observadoras, responsáveis. De início, parecem ter dificuldade de se expressarem verbalmente, o que logram, quase sempre, a partir dos 3 anos de idade. Não são irriquietas como as índigo. São muito introspectivas, gentis, amorosas..."


Parece que estão falando da minha florzinha! Que criança doce ela é: tranqüila, meiga e muito carinhosa! Tracy Hogg*, a encantadora de bebês, a descreveria como um "bebê anjo".
* Livro: "Os segredos de uma encantadora de bebês", de Tracy Hogg com Melinda Blau.

Meu sonho sempre foi ser mãe. Acho mesmo que nasci pra isso.
Quando eu era bem pequena e não sabia como os bebês eram feitos, eu rezava muitas noites pedindo que Deus me deixasse engravidar. E ainda argumentava: "Sei que sou pequena, mas vi na televisão que uma menina de 9 anos teve um bebê. Sou um pouco mais nova, mas prometo que conseguirei cuidar direitinho. E minha mãe também pode me ajudar."
Bobinha e sem noção...
Mas o que importa é o sonho.

Sonho que decidi realizar no final de 2006. Já sabia que era portadora do vírus da Hepatite C, mas coloquei nas mãos de Deus.
E ele me trouxe, em setembro de 2007, a criança mais adorável que já conheci (e que acabou de chegar aqui toda orgulhosa me mostrando um protetor de tomada - o que quer dizer que ela pode tomar um choque em algum lugar pela casa... deixa eu verificar).

Bom, voltando, como já contei a vocês, minha filha não é, Graças a Deus, portadora da Hepatite C. O vírus pode ser transmitido da mãe para o bebê na hora do parto. Dependendo da pesquisa, a probabilidade varia entre 4% e 7%, sem diferença significativa entre parto normal e cesariana.

O primeiro exame Anti-HCV, feito ao nascer, deu positivo. Fiquei assustada, mas me explicaram que isso é normal, porque o sangue da mãe e do bebê ainda estão muito misturados nessa hora (ou algo assim). E, por outro lado, esse exame mostra que já houve contato com o vírus e não necessariamente que existe o vírus no sangue.

Aos três meses, ela fez o PCR Qualitativo, que não detectou o vírus! O resultado saiu um dia antes do Batizado. Não preciso nem dizer o quanto chorei de emoção na cerimônia, né? (Não sou católica, mas acho o batismo um ritual especial. O significado pra mim não é o mesmo que para os católicos, mas também é um momento de muita fé).

Por protocolo, repete-se o exame novamente aos 18 meses. Acho que é porque ele não detecta quantidades pequenas do vírus no sangue e, aos 18 meses, já haveria tempo para a sua replicação. Assim, temos o veredicto final.

E deu NEGATIVO!
Nessa hora me convenci que devo ser uma pessoa muito boa mesmo, para merecer tamanha benção!

Isso aconteceu há 20 dias.
E foi um sufoco tamanho: o exame não ficou pronto no dia certo, eu ligava pro laboratório e ninguém sabia me dizer o que tinha acontecido. Ficavam de retornar a ligação... e nada. Teve um final de semana no meio da história, que o laboratório não funcionou.
Na segunda-feira, liguei, fui lá pessoalmente, até que recebi a ligação da assessoria científica dizendo que teria que repetir o exame. Isso me deixou muito nervosa, porque, por experiência, sei que eles mandam repetir quando o resultado é positivo.
Mais uma semana de angústia até o feliz resultado.
Foi a pior semana até agora desde que comecei o tratamento.

Eu sinto que o que segura um pouco os efeitos colaterais é o equilíbrio emocional. Como me desequilibrei... fiquei muito mal! Nem tive condições de ir trabalhar. A sensação o tempo todo era de que, a qualquer momento, eu perderia os sentidos.
Conversei com meu médico, que na hora percebeu que devia ser emocional, mas pediu que eu procurasse o pronto-socorro para dar uma checada. Fiz todos os exames e, no final, saí de lá com a receita de um calmante de tarja preta (que tomei por três dias, até sair o resultado).

Mas agora está tudo bem.
E depois do que mostrou o exame da minha gatinha, o que vier pra mim daqui pra frente é lucro!

Ah! Eu amamentei até os oito meses, o que confirma que realmente a amamentação não traz risco para o bebê. Meu peito nunca rachou e, por isso, nunca houve contato com o meu sangue.

Se bem que, lembram da minha tia que também tem Hepatite C? Pois é, quando ela teve os meus primos, já era portadora da doença (embora não se conhecesse a Hepatite C, os exames dela apontavam que ela tinha uma tal de "Hepatite não-A e não-B"). Ela amamentou os três filhos, sendo que o peito dela rachava e chegava a sangrar. Minha mãe conta que um dos meus primos parecia um vampirinho, com sangue escorrendo pela boca quando mamava. E nenhum deles tem o vírus. Eu não arriscaria, mas, de certa forma, é um conforto saber que as crianças, de modo geral, estão um pouco mais protegidas.

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